sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mundo Surrealista


            Não era muito alta ela, usava solto o seu longo cabelo loiro com um franja do tamanho certo para não cobrir os seus profundos olhos. Chamava-se Luna e havia adormecido naquela tarde sobre o seu baloiço de verga, situado perto da praia. Luna era fascinada pelos sonhos, pela realidade surrealista que neles era vivida.
            Abriu delicadamente os seus olhos, pestanejando uma e outra vez, e viu algo diferente. Encontrava-se no centro de uma cidade, uma cidade inacabada em que o seu fundo eram apenas esboços de prédios e de um céu que parecia saído do desenho de uma criança. Começa a caminhar lentamente e rapidamente se apercebe que passo seu corresponde a um novo edifício que se erguia, começa então a correr e vê toda a cidade a mudar diante de seus olhos. Ofegante, decide descansar, curva-se e mete as mãos sobre os joelhos enquanto recupera a respiração e aprecia o que se passa em seu redor.
            Repara na papelaria, pois Luna sempre fora fascinada por estas, por ver os materiais e observar as pessoas naquele ambiente. Decide entrar, mas pouco antes apercebe-se que havia já algum tempo que era seguida por o mesmo homem. Ele era alto e loiro, na casa dos trinta anos e tinha o cabelo apanhado no baixo rabo de cavalo.
            Luna entra na papelaria e sente, apercebe-se finalmente que algo está errado e olha o guarda, na esperança de alguma resposta. Este rapidamente desvia o olhar, cortando qualquer contato. Vê no canto do olho o homem que a seguia entrar na papelaria, mas quando este vê o guarda rapidamente se afasta.  E surge-lhe o pensamento que estava finalmente a salvo, e ainda ela não sabia do quão errada estava.
            O homem entra novamente, corre e tranca o guarda lá fora, deixando as restantes pessoas no interior da papelaria. Luna ouve as fortes pancadas na porta provenientes do guarda, e quando olha o homem na esperança de o reconhecer ele possuía uma arma apontada a si, pareceu-lhe. Olha então para o empregado que se encontrava por detrás da caixa registadora, e este transforma-se numa alta chama ofuscando Luna. É no momento que ela pestaneja que muito se altera, o empregado era agora o homem e algumas das pessoas haviam desaparecido, não estavam mortas, simplesmente já não estavam lá. Pergunta à pessoa que estava a seu lado, o que se passava, mas esta não lhe respondeu, ninguém lhe dava respostas. Ouve então o homem, percebendo que falava consigo, este ordena-lhe que suba as escadas e saia pelas traseiras e chame o guarda, pois se não o fizesse todas as outras pessoas seriam mortas.
            Luna vê as escadas em caracol de metal, não possuíam mais de dez degraus. É quando as começa a subir, que realmente se sente armadilhada, as escadas não tinham qualquer estilo de fim, ao olhar para trás estavam sempre oito degraus e à sua frente um. Mas ela havia subido infinitos degraus, havia corrido por entre eles nunca acabando. Decide então saltar cá para baixo sobre os degraus, pareceu-lhe um salto que nunca mais teria fim.
            Os seus pés tocam finalmente o chão, e pensa que havia falhado. Mas não, Luna estava agora diante de uma porta que dizia “MUNDO”. Abre a porta, pois não teria nenhuma outra escolha. Voltara à cidade, e então corre rapidamente para voltar a encontrar a papelaria.
            É quando a alcança, que vê o guarda à porta extremamente tranquilo. Nada se passava, o que ela vira de dentro não parecia ser o mesmo que se passava cá fora. Tenta tocar ao de leve no ombro do guarda, mas este desfaz-se em purpurinas que ascenderam num remoinho. O tal homem, corre em direção a ela e ela fica apenas estática, não possuía qualquer tipo de reação para este acontecimento. Ele ameaça-a, agarrando-a no ar pelas roupas. “Acorda, acorda” pensara ela, pois acreditava estar num sonho.
            Abre os olhos, continua na cidade e no meio de uma papelaria, mas uma diferente. Não existiam as pessoas da outra, tinham meramente desaparecido. Levanta-se, pois encontrava-se caída no chão e ninguém a via ou ouvia. Corre, corre desesperadamente como se isso fosse mudar os acontecimentos. Não mudara.
            É num decisivo instante que Luna choca com uma rapariga, e agora que pensa, era uma rapariga extremamente parecida consigo. Esta repara finalmente em si, e Luna diz “ajuda-me”. A rapariga diz-lhe:
            -Não te posso ajudar Luna, estás agora presa no teu próprio mundo. Este é o mundo que tu criaste, vem de dentro de ti. Dos teus medos e sonhos, e se estás assim tão assustada o teu maior monstro és tu mesma. Não te consegues entender a ti mesma, mas ninguém consegue também. Estás presa neste teu mundo.

4 comentários:

Flávio Miguel Mata disse...

Gosto, gosto!

Flávio Miguel Mata disse...

Não tens de quê, Joaninha :)

Mars. disse...

Gostei bastante, escreves muito bem.

Laura disse...

Olha Joana, eu acho que está mesmo muito bom. Até porque isso pode mesmo ser comparado a um sonho.
Os nossos sonhos são tão insconstantes e tão complexos como este texto. E parece tudo tão real.
Beijinhos